quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Inferno no trânsito

Para quem mora em São Paulo, os congestionamentos diários são tão comuns quanto o cafézinho na lanchonete da esquina, os comentários sobre o futebol no final de semana ou o último escândalo político.

Há quem diga, e dou-lhes razão, que esses congestionamentos são um verdadeiro inferno, onde pagamos nossos pecados do dia a dia. Mas, desde que Dante bem descreveu os círculos infernais, todos sabemos que todo inferno que se preze tem que ter seus demônios, com seus tridentes, chicotes e trombetas (nome bonitinho que ele deu para "peidos"). Eles não poderiam deixar de estar presentes no nosso trânsito, nos fustigando e arrancando lágrimas e ranger de dentes... Ah, nossos demônios, os motoboys...

Desde que tirei minha habilitação, e aí se vão tardos anos, aprendi que as linhas pontilhadas entre as faixas de rolagem servem apenas para dividir as pistas de uma rua, avenida ou rodovia. Nelas sempre foi proibido trafegar. A isso se dá o nome de "corredor", o espaço que se forma entre os carros que rodam pelas pistas de rolagem. Alí o espaço é reduzido e imprevisível, porque os carros tendem a se movimentar de forma desordenada, de acordo com os desvios necessários a que os motoristas trafeguem com segurança, desviando de vários obstáculos, buracos (não poucos) e de um susto ou outro. Esse espaço entre as faixas de rolagem sempre serviu de área de escape para que fugíssemos de um acidente ou desatenção do motorista ao lado. Hoje, absurdamente, os motoboys se apropriaram dessa área, entendendo eles se tratar de pista de sua inteira propriedade, a ponto de impedir a mudança de pistas de um motorista. A imagem que coloco neste artigo ilustra isso muito bem. Hoje é praticamente impossível ao motorista fazer uma conversão de faixa, tal a quantidade e irresponsabilidade desses condutores de motocicletas.

Ai do pobre motorista que simplesmente acionar a seta de seu carro e decidir converter para outra faixa. Terá que ouvir inúmeras e insuportáveis buzinas de motocicletas, xingos, chutes na porta e não raro, verá seu retrovisor sair voando pelos ares.

E se, por uma infelicidade não conseguir enxergar aquele maldito motoboy que se aproxima a toda velocidade, escondido pelo ponto cego do automóvel, que irresponsávelmente ultrapassa pela direita (outra proibição das regras de trânsito, totalmente negligenciada por esses demônios), se por essa infeliz coincidência de fatores ele abalrroar o imbecil motoboy, ele será sempre culpado, condenado a pagar as absurdas indenizações que esse irresponsável vai pedir, e que os intocáveis donos da verdade, os alienados juízes sempre bondosamente concederão (claro, é mais fácil do que pensar).

Acho que já passou da hora de alguém colocar ordem nessa bagunça. O trânsito por si só já é um grande problema, e não precisamos de demônios adicionais para nos atormentar nesse inferno.

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